quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Acaso sou eu?

Era pequenina, miúda, de voz doce e resistente. Não era personagem de um livro, mas vivia neles, saboreava cada página e se deliciava com historias de castelos, gigantes e abobrinhas maravilhosas. Não era dificil encontrá-la pela rua lendo o incompreensível e o desvalorizado, lia por instinto, por amor ao olhar, ao olfato.

Não entendia por que as mães morriam, os pais se separavam, e a escola era tão rigorosa, já que era na escola que sentia a vida, cheia de cores pelas paredes e sorrisos largos.

Ao completar seus 11 anos, sentia-se grande, porém dentro de si mesma. Algo a inquietava, era como se uma vontade de descobrir, de explorar - como dizia seu professor de geografia - em um tom entusiasmado:
- Explore crianças, explore!
Explorar? Interrogação da qual não desejava resposta imediata. E de um silêncio profundo nasceu uma curiosidade verde, cheia de esperança. Era disso que precisava, uma ideia que pudesse levá-la para um outro estado de lucidez, capaz de compreender o porquê de todos os por quês. Queria respostas sinceras e verdadeiras, nada de neologismos ou etiqueta de meia tigela, nada de diplomacia e docilidade bestial, queria palavras ásperas, dureza, queria sair do mundo da inocência permitida. Foi então que conheceu o Dr. Pompeu. Um homem cheio de historias vividas e inventadas, das quais se apoiava para viver.
Ninguem sabia, mas o Dr. Pompeu era um homem de uma tristeza sem fim, sorria a todo instante na presença das pessoas e chorava a todo instante, na ausência das pessoas. Era normal o Dr. Pompeu, não tinha hábitos estranhos, não usava termos complexos, vestia-se bem, tinha uma aparencia típica de um professor prestes a se aposentar.
Todos iriam se espantar se ele falasse tudo o que sentia, tudo o que explodia em seu coração. Não podia dizer para as pessoas das suas descobertas, perderia toda a credibilidade que lutou para alcançar, as pessoas pensariam o que dele?! Não, não queria ser questionado, a balança não o permitia.
Mas a história têm suas artimanhas e o destino juntou a doce menina ao normal Dr. Pompeu. Numa tarde quente, entre às 15h às 17h, devido a um projeto escolar de acompanhamento com alunos e professores de turmas distintas, tiveram a chance de serem a dupla escolhida para fazer parte do projeto, um mero sorteio, assim como somos fruto de uma seleção. E conversaram, conversaram, sem entender como poderiam se entender, já que existia a diferença de idade e de conhecimento, mas tudo aconteceu do inesperado e uma amizade cristalina e sem interesse aconteceu. E o convite foi feito, Dr. Pompeu disse:
Quero que me acompanhe no mundo da Filosofia,
A resposta não foi verbal, um sorriso, apenas um simples gesto e tudo foi dito. Era isso exatamente o que a menina precisava.
E a historia não continua e não termina, a menina não obteve as respostas de suas indagações, mas soube como formular e direcionar melhor todas as suas incertezas...
*Dr. Pompeu vive pelo mundo a se perguntar por quê, pq eu sou Pompeu?

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